Especiais


Homenagem

Posse na Academia de Letras de Viçosa (ALV)

Francisco Simonini da Silva –  26/05/04

Saudação…

Maria Aparecida da Silva Simões, Presidenta da Academia de Letras de Viçosa, autoridades presentes, Senhoras, Senhores, José Paulo Martins, familiares e amigos…

Convocado para cumprimentar o neo acadêmico José Paulo Martins e para manifestar a satisfação da Academia de Letras de Viçosa ao recebe-lo, confesso imensa dificuldade para me desembaraçar da tarefa.

De qualquer modo, valha o que valer, fundindo a emoção e a razão, tento desvencilhar-me da tarefa.

Em assim sendo… Passo a falar através da razão…

José Paulo Martins, 51 anos, nasceu em Tiros, no Centro-Oeste mineiro. É Bacharel em Comunicação Social pela UFMG (Turma de julho de 1978) com passagens pelos cursos de Filosofia-Teologia e Direito.

Reside em Viçosa desde 1981, quando foi admitido na UFV. Trabalho, desde então, na área de Comunicação Social. É casado com Nívia e tem os filhos Gustavo, Lígia e Otávio.

Tomou gosto pela escrita quando foi o premiado em um concurso de redações promovido pelo colégio onde estudava. Teve pequena passagem pelo magistério em sua terra e depois entrou de vez no jornalismo impresso. Ajudou a criar vários periódicos como a Gazeta Regional, O Ruralista, Jornal Regional e Ação Ambiental.

Como jornalista, escreveu para veículos como Estado de Minas, O Ruralista, UF Informa-Jornal da UFV, Terra Nossa, Jornal do Produtor de Leite, Muzungu e Panorama. Atuou na área esportiva como árbitro da FMF, diretor da Liga Esportiva de viçosa e comentarista na Rádio Montanhesa.

Como autor, obteve a 5ª colocação no Concurso de Contos de Natal da Itaú Seguradora, com o trabalho “Viagem”, e foi o vencedor do V Concurso de Contos das Faculdades Integradas de Ourinhos (SP), com “A Casa Branca” e obteve menção honrosa na sétima edição do mesmo concurso, com “Nandu Porace”.

Tem o conto “Cavu” e os poemas Sísufo” e “Casa” incluídos em antologias publicadas pela Academia de Letras de Viçosa e Editora da UFV, respectivamente. Em 1999, conquistou a primeira colocação no Concurso Nacional de Monografias 500 Anos, promovido pelo Confea, com o trabalho “Nova Carta”.

Em 2001 publicou a novela “Safadeza Consentida”, atualmente esgotada. Reuniu o que considera seus melhores trabalhos publicados no jornal Muzungu no livro de crônicas “Um olhar para Meu Tempo, pronto para ser editado. Possui, ainda inédito, o livro infantil “O Enigma da Gruta do Eco”. Atualmente trabalha na produção do livro “O Imperador Esteve Comigo”, no qual pretende transitar entre a ficção e a história do Brasil.

Em assim sendo… Deixo, agora de falar com a razão para falar com a emoção…

Imensa dificuldade para falar com a emoção, pois esta fala ultrapassa as fronteiras de fraterna amizade e nasce de confidências e inconfidências oriundas de infindáveis conversas.

Intermináveis filosofares, entre dois aprendizes de filósofos. Filosofares estes, sobre o infinito e o finito, sobre o transitório e o contingente, sobre real e o aparente. Longos diálogos em que falamos de tudo, por tudo e para tudo.

Parodiando Aristóteles, são diálogos sobre o ser, enquanto ser, e a especulação em torno dos primeiros princípios e das causas primeiras do ser e do mundo.

Troca de ideias na construção incansável de utopias com a certeza fazendo de que elas, as utopias, haverão, um dia qualquer, de um qualquer ano ou mesmo de um qualquer futuro século se transformarem em ideologia – uma nova ordem política, econômica, social e ecológica, onde, a maioria, os proprietários do sem tudo, transformar-se-ão nos proprietários do com tudo. A utopia da redenção, sem adjetivos, a libertação da humanidade sem tergiversações.

Por tudo isto e em assim sendo… Saudar José Paulo Martins é difícil, pois trata-se de saudar alguém, nada mais, nada menos, do que um cúmplice. E é, na condição de cúmplice que posso asseverar ser José Paulo um ser humano que dignifica a própria humanidade. José Paulo é, pois, daquelas pessoas que, dia após dia, faz da vida uma vida menos áspera de se viver.

Tenho para mim que a vida é uma dádiva. Em se tratando de José Paulo, ele, José Paulo, é uma dádiva para a vida. Vida que dança a suave e doce balada da vida, na sua terna e eterna fusão dialética. Vida que dança a suave e doce balada da realidade, uma realidade constituída pelo homem e pelo mundo.

Suave e doce balada da vida dos homens e mulheres, das lutas lutadas e por lutar. Homens e mulheres das lições ensinadas e aprendidas. Homens e mulheres das lições para estudar e para aprender. Homens e mulheres de uma história de vida fundamentada em princípios essenciais. Princípios estes enraizados na coragem, na dignidade, na honestidade e na coerência.

Suave e doce balada da vida que fez a história colocar-me muito próximo de um ser humano. Humano como poucos. Um sertanejo destas Minas Gerais e que traz consigo aqueles princípios essenciais dos quais citei anteriormente – coragem, dignidade, honestidade e coerência, atributos próprios do sertanejo desbravador.

Sertanejo desbravador, tal-qualmente, um Mário Palmério, patrono da Cadeira 36 da ALV, criada e ocupada por Zé Paulo, um personagem que, embora em espírito, encontra lugar no enredo do célebre Chapadão do Bugre ou, quem sabe, na Vila dos Confins?

Seria um Juca Meirinho, na manhã da carnificina, em Santana do Boqueirão, magoado pelos gritos do malcriado soldado na porta do Fórum? Ou seria José de Arimatéia que, após vencer serras, matas e pedregulhos lutava, a seu modo, contra a opressão do coronelismo político e a truculência dos soldados do Capitão Eucaristo Rosa? Ou, ainda, quem sabe, Zé Paulo, você seria a própria Camurça, a mula de montaria, consciente e capaz de visualizar em toda sua plenitude o sentido de toda a trama, intriga e conspiração contra a liberdade do sertanejo?

O neo-acadêmico possui aquelas qualidades acobertadas pelo manto da simplicidade, humildade e modéstia mas, contraditoriamente, um indivíduo de caráter próprio, jamais modificado por elementos estranhos, aqueles desprezíveis fantasmas que perambulam, espaço afora e espaço adentro, procurando corromper, destruir e prostituir os homens de verdade.

José Paulo Martins das lutas lutadas e por lutar, José Paulo Martins capaz de, na suave e doce balada da vida, somar coragem, dignidade, honestidade e coerência a uma cultura ímpar e a um profissionalismo invulgar. José Paulo Martins, uma dádiva para a vida, na suave e eterna balada da vida.

Seja bem-vindo, José Paulo! A Academia de Letras de Viçosa o recebe de braços abertos e, sem dúvida, fica muito mais rica com a sua presença. A Academia de Letras de Viçosa recebe, nesta noite, uma dádiva.

Bem-vindo, José Paulo Martins..